BREVE RELATO HISTÓRICO DA CRIAÇÃO E FUNDAÇÃO DO STIGABC

Entre o final do ano de 1985 e início de 1986, criou-se em São Bernardo do Campo a Associação dos Trabalhadores Gráficos do ABC. A categoria gráfica da região, antes, era representada pelo Sindicato dos Gráficos de São Paulo. Em um período anterior, ocorreu a eleição no Sindicato, e concorreu uma chapa de oposição segundo informações da época, os membros representantes dessa chapa eram quase todos do ABC, ligados à CS – Convergência Socialista uma corrente politica radical que atuava nos movimentos sociais em todo o estado de São Paulo.

Passado o processo eleitoral, que segundo falavam os concorrentes da chapa, foi manipulado o processo eleitoral para não deixar eles de oposição, ganhar e comandar o sindicato, a então diretoria do sindicato passou à base do ABC para ser representada pela Federação Estadual dos Gráficos, e não mais sendo representados pelo Sindicato dos Gráficos de São Paulo, acabando assim com qualquer possibilidade de trabalhadores gráficos do ABC se filiar ao sindicato de São Paulo como era antes.

Depois que houve essa mudança, os trabalhadores se reuniram e criou-se a Associação para mais tarde transformá-la em Sindicato do ABC, em um futuro próximo. A associação ficou sob o comando de uma Direção que atuava muito fortemente no movimento sindical e por conta dos posicionamentos mais radicais dessa direção acabou ganhando forças na base no abc.

Esses companheiros sempre tiveram posições muito marcantes no movimento sindical e sociais, por conta desse trabalho firme, eles conseguiram que já em 1988 transformar a Associação em Sindicato dos Gráficos abc.

Vale ressaltar, que de certa forma à época do Regime Militar exigia dos movimentos sociais e dos trabalhadores de forma geral uma dose mais forte de radicalismo para se equilibrar a balança, mais diante daquela realidade na época, é preciso ser muito firme e corajosos para enfrentar as forças dos cassetetes do Regime Militar nas ruas e a repressão dos patrões dentro das empresas era algo que nos sufocava tal ponto de termos que implantar uma certa dose de força bruta, se não a exploração do capital e o regime nos tragávamos sem dó.

Lembrando que a Associação dos Gráficos do ABC não tinha como atuar representando legalmente os trabalhadores, porque a legislação da época não permitia, as associações era um mero instrumento politico dos trabalhadores sem o direito de atuar na defesa dos interesses dos trabalhadores porque o Ministério do Trabalho, proibia essa ação das associações de representar legalmente, se o MT reconhecesse e emitisse uma carta reconhecimento, a associação como sindicato tudo bem, senão nada feito, só restava enquanto associação, se reunir e fazer frente aos movimentos em conjunto com os demais trabalhadores da região em algumas empresas quando tinha greve geral, para que os trabalhadores gráficos tivessem uma referência, mais era só isso e ponto.

Até que em 05/10/1988, com a promulgação da constituição, possibilitou-se a criação de Sindicatos. E logo de imediato, os companheiros que estava à frente da direção da associação, convoca-se uma assembleia geral da categoria com os associados para dia 07/10/1988, para a criação e fundação do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos do ABC, transformando oficialmente a associação em sindicato.

Aqui queremos fazer o reconhecimento da importância dos companheiros da associação pela insistência e persistência, na organização da categoria para criar o sindicato, apesar de não concordarmos com a forma como alguns deles fazem a política, mais não podemos deixar de lembrar a importância deles nesse processo, tanto na criação da associação, como na fundação do Sindicato dos Gráficos do ABC. Citamos aqui, por exemplo, alguns deles como: Zé Alemão, assim como era conhecido, a Marta que elaborou atas e o primeiro rascunho do estatuto para fundação do sindicato, um cara chamado Dalton, muito radical, que achava que era mais revolucionário que o Che Guevara. O Pereira, que era presidente da associação e na época trabalhava na empresa Ápice em São Caetano do Sul, que havia sido demitido e acabou não podendo participar do processo de fundação do Sindicato como membro da primeira diretoria. Enfim, esses companheiros da época de associação gráfica do ABC foram muito importantes, mesmos com seus pensamentos e práticas radicais mais, de certa forma eles contribuíram para o nascimento desse nosso sindicato em 07/10/1988.

A assembleia de fundação foi chamada para ser realizada no “Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema” como era conhecido, hoje os Metalúrgicos do ABC. Nessa assembleia a direção da associação tinha um candidato dela para substituir o Pereira que tinha perdido o emprego na base do ABC, esse candidato trabalhava na gráfica IBF (Indústria Brasileira de Formulários) Manoel da Silva Pereira. Nós da chamada “Articulação Sindical”, não tínhamos ainda candidato para disputar com a direção, porém um companheiro da Ford, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos, Heiguiberto Guiba Della Bella Navarro, convocou uma reunião com nós funcionários da Gráfica FG e disse: Vocês precisam estar presentes na assembleia e vão disputar a presidência do sindicato com a direção da associação, um entre vocês têm que se colocar como candidato à presidência desse sindicato, tendo em vista o posicionamento radical da direção para organizar e comandar um sindicato da importância dos gráficos do abc.

Nessa assembleia, nós da gráfica FG estávamos em mais ou menos 30 funcionários, todos sócios e lotou a assembleia. Lá foi colocado o meu nome: Isaias Karrara de Sousa Silva para ser o candidato da articulação sindical para disputar com: Manoel da Silva Pereira o candidato da associação, sendo que fui eleito com 19 votos de diferença. Os companheiros da associação ficaram “fulanos” da vida porque eu era para eles um estranho no ninho, já que era apenas um associado da então associação, e que não seguia a orientação política deles. Como fui eleito pela assembleia para presidir o sindicato eles disseram: “Agora nós vamos escolher o restante da Diretoria”!”. Eu de imediato para agradá-los, indiquei o Manoel da Silva Pereira para ser o tesoureiro, para deixar os companheiros com os ânimos mais calmos e me ajudar a organizar os trabalhos no sindicato e a categoria. Eu achava que isso ajudaria! Mais me enganei. O radicalismo deles parece que aflorou ainda mais. “relata Karrara”.

A composição da primeira diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Gráficos do ABC ficou assim:

  • Isaias Karrara de Sousa Silva – Presidente G-FG;

  • Gim Corchon Delgado – Secretário Geral IBF;

  • Manoel da Silva Pereira – Tesoureiro IBF;

Suplentes:

  • Doacir Aparecido dos Santos “Pelé” – Gráfica Bandeirante;

  • Francisco Martins Lima – Gráfica Gold-Print;

  • Valdir Antônio Vasconcelos – Gráfica Assahi;

Conselho Fiscal:

  • Sérgio Teixeira de Moraes – IBF;

  • Josué da Silva Junior – IBF;

  • Valdemar Martins Ferreira – Gráfica Bandeirante;

Suplentes:

  • Vanderlei Losano – IBF;

  • José Ferreira de Rezende – IBF;

  • Guimarino Coelho da Silva – IBF;

Como podemos observar até aqui, a maioria dos membros da primeira Diretoria são companheiros da Gráfica IBF – Indústria Brasileira de Formulários que era justamente onde a direção da associação tinha maioria dos seus simpatizantes ou mesmo membros da “corrente politica deles” que atuava nas empresas na região do ABC.

Portanto criamos o sindicato, que só passa a atuar nas bases como um organismo reconhecido pelos trabalhadores e empregadores a partir de 1993 quando nós de fato já tínhamos ganhado força junto à categoria e fazíamos as greves nas empresas para fazer valer os direitos e conquistas dos trabalhadores, antes disse, o trabalho foi fazer a Federação Estadual dos Gráficos nos aceitar como sindicato representativo da região o que deu muito trabalho, sofremos vários processos de Retalhação da federação para não permitir que as empresas nos reconhecesse como sindicato e recolhesse o imposto sindical para nós, além de termos problemas com os patrões, a federação nos retalhava duramente junto às empresas para não nos reconhecer como sindicato, foi uma luta contra patrões e federação até que vencemos a batalha.

Para fecharmos esse resumo nós não podemos e não temos o direto de deixar de relatar aqui o nome das entidades que não mediram esforços na luta para nos tornar o que somos hoje, uma entidade que ganhou o carinho e respeito dos trabalhadores, e até dos bons empregadores desta categoria. Não vamos aqui dizer que só porque é empregador é nosso inimigo, ou não podemos ter respeito mútuo, temos alguns poucos proprietários de empresas gráficas aqui que aprenderam ao longo desses anos, terem uma convivência civilizada com os trabalhadores e com seus representantes. Graças à solidariedade de classe desses sindicatos, na defesa dos interesses dos trabalhadores, é que isso se tornou possíveis aos gráficos do ABC, a ser uma categoria organizada e ter uma representação sindical a sua altura;

Quem deu todo suporte politico e necessário e continua dando até os dias atuais são nossos parceiros fiéis inseparáveis de primeira hora.

Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, hoje “Metalúrgicos do ABC”;

Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários do ABC;

Sindicato dos Trabalhadores Químicos do ABC;

Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André, Mauá e Região.

Portanto, esses foram os sindicatos de trabalhadores que apostaram na possibilidade de ver os gráficos do ABC a se organizar e ter sua representação aqui no ABC, já que na época éramos mais de 15 mil trabalhadores e trabalhadoras, sem uma representação que de fato nos dessem o devido respaldo necessário no dia a dia, dentro das empresas que nos explorava e burlava nossos direitos diariamente.

Parabéns aos Trabalhadores Gráficos do ABC, aos Trabalhadores Metalúrgicos, Trabalhadores Rodoviários, Trabalhadores Químicos e os demais sindicatos de trabalhadores que estão sempre juntos na luta! Em defesa dos direitos e conquistas dos trabalhadores. TJM.

A Diretoria

Revista: Toda história do Sindicato dos Gráficos do ABC